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A história dos azulejos portugueses

  • 3 de dez. de 2024
  • 6 min de leitura

Atualizado: 26 de jan.

 

A origem da palavra azulejo vem do árabe azzelij (al zulaiju, al zuléija, al zuleycha, al zulaco), que  significa pequena pedra polida, que era usada para designar o mosaico bizantino do próximo oriente.  Contudo era comum, fazer uma relação do termo com a palavra azul (termo persa lazhward, lápis-lazúli), por causa da grande produção portuguesa de azulejo ser nessa cor, porém a origem real da palavra é árabe.

 

 

                                                   Blue Turkish Tiles

 

Na Antiguidade, mas precisamente na região da Mesopotâmia e antigo Egito, pode se obervar o uso do azulejo, sendo que o mesmo se alastrou por um grande território com a expansão islâmica pelo norte do continente africano e europeu (região do mar mediterrâneo), penetrando na península ibérica no século XIV pelas mãos dos mouros, fazendo com que a arte da azulejaria criasse raízes, já que para as terras conquistadas, trouxeram os mosaicos para ornamentar as paredes dos seus palácios, dando-lhes ostentação e brilho, através de um jogo geométrico complexo.

 

 

                                                     Formas geométricas complexas

 

Durante a permanência moura na península ibérica, o estilo islâmico fascinou os portugueses e espanhóis e os artesões ibéricos modificaram a técnica mourisca, que demorava muito tempo para sua execução, simplificando-a e adaptando-a aos padrões e ao gosto ocidental. Na Espanha foi desenvolvida entre o século XII e meados do século XVI em Málaga, Valência (Manises, Paterna), Talavera de la Reina e Sevilla (Triana), a técnica mudéjar.

 

 

          Arte Mudejar Parroquieta da Seu, em Saragoça

 

No ano de 1498, O rei de Portugal D. Manuel I, viajou à Espanha e ficou encantado com a exuberância dos interiores mouros, e com desejo de edificar a sua residência à semelhança dos edifícios visitados em Toledo, Saragoça e Sevilla, importou os primeiros azulejos.

 

       Palácio Nacional de Sintra - Pátio Central - Azulejos com marcada influência Mudejar

 

Portanto, é na Virada do século XV para o século XVI, que o azulejo chega a Portugal, que já era um país com uma grande experiência na produção cerâmica, sendo que os primeiros exemplares usados foram os Hipanos Mouriscos vindos de Sevilla, que serviram para revestir as paredes de palácios e igrejas. O Palácio Nacional de Sintra, que serviu de residência do rei, é um dos melhores e mais originais exemplos desse azulejo inicial ainda importado de oficinas de Sevilha em 1503.

 

           Palácio Nacional de Sintra - Sintra - Portugal

 

Inicialmente importados da Espanha, o azulejo, foi mais tarde empregado como resultado de manufatura própria, sendo que em 1560, começaram a surgir em Lisboa oficinas de olaria que produziam azulejos segundo a técnica faiança, importada da Itália, sendo que mais tarde, a produção de azulejos se espalharia também para parte do antigo império, de onde foi absorvida uma grande influência (Brasil, Índia e África).

Em Portugal, o azulejo é um importante suporte para a expressão artística nacional ao longo de mais de cinco séculos, onde o mesmo transcende para algo mais do que um simples elemento decorativo de pouco valor intrínseco.

 

 

Na cidade de Lisboa, por exemplo, o azulejo ultrapassou extensivamente a sua função utilitária ou o seu destino de arte ornamental e alcançou o estatuto transcendente de arte, enquanto intervenção poética na criação da arquitetura das cidades.

 

          Casa na Praça Luis de Camões - Lisboa - Portugal - Autor Sergio Calleja

 

A originalidade de seu uso e o diálogo que o mesmo estabelece com as demais artes, faz dele um caso único no mundo.

No museu nacional do azulejo em Lisboa, encontram-se painéis que testemunham a evolução desta peça de cerâmica decorativa que se adaptou às necessidades e acompanhou os estilos das diferentes épocas. Um forte exemplo da importância do azulejo em Portugal é o Retábulo da Nossa Senhora da Vida do século XVI, composto por 1384 azulejos que sobreviveram ao grande terremoto.

 

          Retábulo da Nossa Senhora da Vida do século XVI

 

Na arte da azulejaria portuguesa, os temas oscilavam entre os relatos de episódios históricos, iconografia religiosa, cenas mitológicas e uma gama de elementos decorativos espalhados em muitos temas (exemplo geométricos e vegetarianos) aplicados na parede, pavimentos e tetos de palácios, jardins, conventos, igrejas e casas. Nas igrejas, o azulejo foi usado para revestir todas as superfícies, mesmo as abóbadas e tetos, e podemos observar um complemento estético entre a talha dourada do período barroco português e as molduras ondulantes do azulejo.

 

          Infante D.Henrique na conquista de Ceuta, sec.XV -  Estação Ferroviária do Porto Portugal

 

No final do século XVII, tanto a produção como a qualidade dos azulejos são maiores, famílias inteiras se envolvem na arte da azulejaria e, alguns pintores se afirmar como artistas e passam a assinar as suas obras, o que dá início ao ciclo dos mestres, tendo como seu precursor o espanhol Gabriel Del Barco, ativo em Portugal, que introduziu um gosto por envolvimento decorativo mais exuberante, e uma pintura liberta do contorno rigoroso do desenho, gerando nas obras, uma originalidade espontânea na utilização mais livre e pictórica das gravuras, e na criatividade das composições dos azulejos aos espaços arquitetônicos.

 

          Terreiro do Paço, Lisboa antes do terremoto de 1755.

 

Cenas inusitadas, originais e audaciosas surgem na azulejaria portuguesa. Seres humanos são substituídos por galinhas, onças e macacos, por exemplo, o que deu origem a histórias fantasiosas, irônicas, que logicamente despertaram muitas risadas.

A destruição quase total de Lisboa, causada pelo terremoto de 1755, permitiu que fosse planejada e construída uma cidade nova e esclarecida, tendo como principal responsável o Marquês de Pombal, que encarregou um grupo de engenheiros portugueses e estrangeiros de traçarem um novo perfil da capital portuguesa. Isso impôs um ritmo novo à produção de azulejos de padrão, hoje denominados Pombalinos, que foram fabricados em série, combinando técnicas industriais e artesanais, muito usados para a decoração dos novos edifícios da cidade.

 

          Palácio do Raio - Braga - Portugal

 

 “Nos finais do século XVIII, o azulejo deixa de ser exclusivo da nobreza e do clero, a burguesia abastada faz as primeiras encomendas para as suas quintas e palácios, os painéis contam por vezes a história da família e até da sua ascensão social.” (PINHEIRO, 2014).

Com a afirmação da burguesia ligada ao comércio e à indústria, a partir do século XIX, existe um novo uso do azulejo, que ganha visibilidade, saindo das igrejas e dos palácios para as fachadas dos edifícios, dando beleza a paisagem.  Na segunda metade do século XIX, o azulejo de padrão, de menor custo, cobre muitas fachadas, produzidos por fábricas de Lisboa (Viúva Lamego, Sacavém, Constância e Roseira) e da cidade do Porto e Gaia (Massarelos, Devezas), isso definiu duas sensibilidades, no norte é característico o recurso a relevos pronunciados, num gosto pelo volume e pelo contraste de luz e sombra; no sul mantêm-se as padronagens lisas de memória antiga, transpondo-as dos espaços interiores, para uma quase ostensiva aplicação exterior nas fachadas.

 

O colonialismo português trouxe a arte da azulejaria para o Brasil, fato que é comprovado através de alguns painéis espalhados por várias cidades brasileiras, onde os mesmo ornamentam importantes edificações que contam a história do país.



  Sobrados azulejados em São Luis - MA - Brasil

 

Já em Portugal, o azulejo é tão importante, que em 1980, foi instalado no convento da madre de Deus em Lisboa, o Museu Nacional do Azulejo. Uma paixão nacional, onde os Azulejos são peças que se encaixam para contar a história.

 

Referências:

 

DOMINGUES, Ana Margarida Portela - A ornamentação cerâmica na arquitectura do Romantismo em Portugal. Tese de Doutoramento em História da Arte apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Porto, 2009, 2 volume

 

LOPES, Vitor Sousa. Testemunhos nas paredes: ensaios de azulejaria. Lisboa: A. C. D. Editores, 2001. ISBN 972-97444-8-3.

 

PINHEIRO, Paula Moura. Uma breve história da azulejaria portuguesa 2014. Disponível em http://ensina.rtp.pt/artigo/uma-breve-historia-da-azulejaria-portuguesa acesso em março de 2016

 

SIMÕES, J. M. dos Santos. Azulejaria em Portugal nos séculos XV e XVI: introdução geral. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2.ª ed., 1990. ISBN 972-678-024-1.

 

Wikipédia

 

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